Despertares de Gil Teixeira Lopes (II)
Excertos de grande entrevista à Jornalista Alexandra Bento do Notícias da Amadora em 21-11-2002
Escolas cegam criatividade
Todas as pessoas nascem com capacidades para fazer soluções plásticas, mesmo os que dizem que não têm jeito. «É claro que sei que nasci num local privilegiado». Cresceu entre artistas, como o pai e o irmão.
Mas acrescenta que «todo o ser humano começa por fazer rabiscos na infância. Esses rabiscos são a primeira forma de dialogar com o mundo que a rodeia. É uma linguagem como outra qualquer, mas esta é muito forte, como a dança. Todos nós em pequenos damos passos, piruetas e cambalhotas. O que falta depois é o acompanhar essa capacidade em potência».
No entanto, estas mais valias são desperdiçadas, incluindo pela escola. «Os sistemas de ensino derrubam tudo isto. Cortam completamente toda essa fase criativa». A análise é feita com base nos seus 36 anos como docente na Faculdade de Belas Artes, carreira que abandonou em 1995. O mal é geral e começa logo no 1º ciclo. «Não é dada importância às artes visuais. Chegam ao 2º e 3º ciclos e o problema persiste. Matemática sim, línguas sim, mas artes não. Aliás, quando há horas para cortar, corta-se nas artes visuais. Dizem que não interessam a ninguém».
Sempre foi assim, «mas não devia e agora chega-se à conclusão que não. O ensino estético é tão importante quanto o ensino da matemática e de outras matérias. Toda a informação visual, incluindo a parte plástica, ajuda-nos a interpretar e interrogar o mundo».
Foi isto que aprendeu nos oito anos que andou na Casa Pia. «Os ensinamentos na Casa Pia foram excepcionais. Os meus estudos foram feitos principalmente no claustro dos Jerónimos. Era naquela janelinha do 1º andar que preparava os meus exames». Tinha uma oficina de pintura para fazer o que queria, com barricas de tinta e metros de tela. «E para termos conhecimento dos materiais, íamos primeiro para os laboratórios de química». Teve um ensino extremamente suculento. «O curso era de artes decorativas, mas aprendíamos muitas outras coisas, como teatro. Escavamos ossos para estudar a anatomia. Até educação sexual tínhamos e dada por um padre». Ensinamento que lhe valeram a admissão da Faculdade de Belas Artes. O destaque enquanto aluno valeu-lhe o lugar de professor, mas tal como na arte, teve de transpirar muito.
Lamenta, que os jovens de hoje não possam ter acesso a um ensino de qualidade. «Em vez das fundações os mandarem lá para fora, com bolsas irrisórias, deviam criar mais oficinas e ateliers apoiados pelo governo, onde os jovens com qualidade pudessem produzir os seus trabalhos». É uma forma de «desenvolver a cultura do país, que comparativamente com a Espanha, França e Inglaterra ainda está a muitos anos luz.
Escolas cegam criatividade
Todas as pessoas nascem com capacidades para fazer soluções plásticas, mesmo os que dizem que não têm jeito. «É claro que sei que nasci num local privilegiado». Cresceu entre artistas, como o pai e o irmão.
Mas acrescenta que «todo o ser humano começa por fazer rabiscos na infância. Esses rabiscos são a primeira forma de dialogar com o mundo que a rodeia. É uma linguagem como outra qualquer, mas esta é muito forte, como a dança. Todos nós em pequenos damos passos, piruetas e cambalhotas. O que falta depois é o acompanhar essa capacidade em potência».
No entanto, estas mais valias são desperdiçadas, incluindo pela escola. «Os sistemas de ensino derrubam tudo isto. Cortam completamente toda essa fase criativa». A análise é feita com base nos seus 36 anos como docente na Faculdade de Belas Artes, carreira que abandonou em 1995. O mal é geral e começa logo no 1º ciclo. «Não é dada importância às artes visuais. Chegam ao 2º e 3º ciclos e o problema persiste. Matemática sim, línguas sim, mas artes não. Aliás, quando há horas para cortar, corta-se nas artes visuais. Dizem que não interessam a ninguém».
Sempre foi assim, «mas não devia e agora chega-se à conclusão que não. O ensino estético é tão importante quanto o ensino da matemática e de outras matérias. Toda a informação visual, incluindo a parte plástica, ajuda-nos a interpretar e interrogar o mundo».
Foi isto que aprendeu nos oito anos que andou na Casa Pia. «Os ensinamentos na Casa Pia foram excepcionais. Os meus estudos foram feitos principalmente no claustro dos Jerónimos. Era naquela janelinha do 1º andar que preparava os meus exames». Tinha uma oficina de pintura para fazer o que queria, com barricas de tinta e metros de tela. «E para termos conhecimento dos materiais, íamos primeiro para os laboratórios de química». Teve um ensino extremamente suculento. «O curso era de artes decorativas, mas aprendíamos muitas outras coisas, como teatro. Escavamos ossos para estudar a anatomia. Até educação sexual tínhamos e dada por um padre». Ensinamento que lhe valeram a admissão da Faculdade de Belas Artes. O destaque enquanto aluno valeu-lhe o lugar de professor, mas tal como na arte, teve de transpirar muito.
Lamenta, que os jovens de hoje não possam ter acesso a um ensino de qualidade. «Em vez das fundações os mandarem lá para fora, com bolsas irrisórias, deviam criar mais oficinas e ateliers apoiados pelo governo, onde os jovens com qualidade pudessem produzir os seus trabalhos». É uma forma de «desenvolver a cultura do país, que comparativamente com a Espanha, França e Inglaterra ainda está a muitos anos luz.
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