Gil Teixeira Lopes mostra obra inédita dos anos 70.
In Jornal de Notícias em 02/01/2007
Pela Jornalista Ana Vitória:
Aos 70 anos Gil Teixeira Lopes prepara-se para dar a conhecer uma pequena parte do muito trabalho que ainda mantém inédito. O arranque será dado com a exposição "Anos 70/70 Anos", que será inaugurada no próximo dia 12, na Casa-Museu Anastácio Gonçalves, em Lisboa. A mostra reúne um conjunto de 43 trabalhos sobre papel. Uma ínfima parte da produção deste artista multifacetado que tem usado a pintura, a escultura, o desenho e a gravura como formas de expressão.
Gil Teixeira Lopes não gosta de rótulos artísticos. Considera a arte algo suficientemente abrangente para ser confinada ao espartilho dos conceitos ou movimentos. Para ele, por exemplo, falar de arte abstracta é algo que o ultrapassa.
" As coisas não são estanques Eu, por exemplo, não sei o que é o abstracto . Para mim tudo parte de uma realidade. Quando as pessoas tentam dizer abstracto é apenas porque, ao seu olhar, não conseguem identificar algo. Por exemplo, também existem estas classificações de pintura, escultura, gravura, desenho. Mas, a verdade, é que não sinto barreira entre elas. Para mim é indiferente a forma como me expresso. Vou fazendo as coisas, vou tirando partido de tudo o que me rodeia. e para tal uso os meios que melhor se adaptam a essa forma de expressar o que estou a sentir em determinado momento. O que se procura pintar não são os objectos, senso comum, mas o efeito que eles produzem".
Por isso o artista inspira-se em coisas banais do quotidiano um chapéu na cabeça de uma jovem, um perfil, ou em emoções mais profundas simbolizadas num certo erotismo que perpassa por muita da sua obra.
Gil Teixeira Lopes confessa que, desde pequeno, sempre gostou de testar os materiais que tinha à mão. "Por exemplo, na minha terra, quando eu era criança, usava pedaços de madeira carbonizados para fazer desenhos".
Ao partir para a realização desta nova exposição o artista celebra, de certa forma a vida. Ele que já foi operado três vezes ao coração (uma delas para receber um transplante) e a quem, nos últimos dois anos, a doença voltou a pregar uma partida, afectando-lhe gravemente os olhos. Agora, em recuperação, e depois de um confessado momento de crise e de angústia, Gil Teixeira Lopes decidiu olhar mais atentamente para o passado. "Para o que ficou como marca de um período de grande exaltação criativa que não me deu tempo para partilhar nem apresentar publicamente." A produção dos anos 70 expressa-se em centenas de trabalhos, quase todos inéditos.
"A década dos anos 70 foi de valorização da figura humana". A sensorialidade e cromatismo são marcas indiscutíveis deste artista. A fase criativa foi inspirada por circunstâncias históricas e por indissociáveis momentos de exaltação pessoal. Toda esta produção está arrumada em pilhas no seu ateliê à Rua de Pedrouços, em Lisboa. "Algum desse material até já se estragou", confessa o artista que não nega o sonho de um dia ainda conseguir pegar nesse material inédito e expô-lo todo.
"O espaço desta exposição na Casa Museu Anastácio Gonçalves só comporta 43 trabalhos, o que representa uma ínfima parte de toda a minha produção desse período que, em termos de trabalho, foi dos mais produtivos".
O artista confessa que nunca sabe quando uma obra está acabada. Por isso, nos últimos anos optou por não datar os seus trabalhos. " A obra pertence a um tempo e a vários tempos. Há telas minhas que têm 20 ou 30 anos de feitura. Muitas vezes acontece que volto a pegar numa tela que deixei inacabada e tenho surpresas muito agradáveis", conclui.
Gil Teixeira Lopes é professor catedrático jubilado de Pintura da Faculdade de Belas-Artes (antiga ESBAL). A sua obra é multifacetada e vasta em técnicas utilizadas e em temas. Recebeu entre 1960 e 1998 cerca de 40 prémios e distinções, quer no país quer no estrangeiro, assim como participou em inúmeras exposições. As suas obras estão representadas em diversas colecções privadas e públicas, nomeadamente Museu de Setúbal, Museu de Arte Contemporânea da S.E.C. (Lisboa), Museu Municipal Martins Correia (Golegã), Museu Municipal Armando Teixeira Lopes (Mirandela), Museu Municipal Abel Mantas (Manteigas), Museu Municipal do Desenho (Estremoz), e França (BNP, Paris), Brasil, Polónia, Noruega, Museu de Arte Moderna de Seul (Coreia), EUA (Biblioteca do Congresso e Museu de Bronx), Bélgica (Ministério da Cultura e Gabinete de Estampas de Liège), México, Áustria, Bulgária e Itália (Museu do Vaticano em Roma e Galeria dos Uffizi de Florença). Entre os galardões mais significativos da sua carreira constam os prémios das bienais do México e de São Paulo, o prémio Gulbenkian de Gravura e a medalha de ouro da bienal de Florença, em Itália.
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