l

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Gil Teixeira Lopes: SOPROS DE VIDA


por Professor Doutor Rocha de Sousa:

Gil Teixeira Lopes expõe (13 de Fevereiro), no Centro Cultural de Cascais e apoio da Fundação D. Luís, um conjunto de suas obras suas a que, neste caso, confere o título SOPROS DE VIDA. Como já é habitual neste autor, a força da sua obra pictórica faz-se acompanhar de ensaios e peças de escultura. A História terá de reiterar a importância e o colossal vigor do trabalho deste artista, professor catedrático jubilado de Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. E é ainda preciso fazer apostas destas perante os opacos silêncios que, em Portugal, sufocam a voz de artistas assim, algumas gerações que marcaram a arte contemporâmea portuguesa até aos nossos dias e que uma certa crítica recente, sem memória, presa a uma aprendizagem mimética das vanguardas acentuadas sobretudo a meio do século XX, espectáculos muitas vezes não mais que redutores, a par dos exemplos maiores a quem foi permitido que atravessassem a fronteira dos anos 80. Os jovens passaram, em muitos casos com justiça, a ser tutelados (ou mesmo orientados) por tal crítica tecnocrática; mas o excesso de informação consumista diversificou falsas originalidades, procurando o dogma e o esquecimento de todos os passados. Muito mecenas, algumas instituições, que absorveram alguns críticos como curadores, abriram imensos caminhos aos jovens. Há jovens em todas as veredas da busca, novas galerias, bienais, feiras, lojas do devaneio. Os grandes autores vivos do século XX português são ostracizados, por vezes escandalosamente, como sempre aconteceu com o pintor Gil Teixeira Lopes, Grande Prémio Internacional de gravura, obra que deveria ser revista e explicada justamente aos jovens. Sobraram Júlio Pomar e Paula Rego. São cumprimentados casos intermédios mas apoiados, como Graça Morais, Cabrita Reis, Angelo de Sousa, entre alguns outros. Hogan foi devidamente compensado quase a título póstumo. Querubim Lapa não tem rosto. Artur Rosa fotografa a Helena. Júlio Resende está lá para cima. João Abel Manta não é solicitado. E tudo o que era preciso rever, comparar, mostrar o que é isso da evolução das formas em autores que já faleceram mas deram importantes contributos para o próprio século XXI: Sá Nogueira, António Charrua, D'Assumpção, Bual, Menez, Eduardo Luiz, Costa Pinheiro, António Areal, José Escada, Manuel Baptista, Jorge Pinheiro, uma galeria imensa de já falecidos e outros ainda vivos, cuja obra teve circunstancialmente um sucesso por vezes mitigado e aos quais teria certamente de pertencer Gil Teixeira Lopes. Ao superar, durante anos, um enorme sofimento com cirurgias ao coração, refém da morte próxima, Gil conseguiu fazer um transplante cardíaco, lutar de novo, não parar nunca, e aí está o testemunho cujos êxitos são genuínos e os fracassos próprios de quem corre riscos e nunca cede, nem à doença. O gosto telúrico desta gravador/pintor, desenhador, escultor, pode ser acusado de ampliado na retórica. Mas então veja-se o modo de criar na Renascença e a reabilitação transformista dos maiores mestres da modernidade. É preciso que se saiba, de uma vez por todas, que a arte portuguesa contemporânea não se divida em dois compartimentos intransitáveis: antes dos anos 80 e depois dos anos 80. Mesmo no domínio da opinião, a ganância em efeitos como os que vemos, agora, em volta, pelo mundo inteiro, desconstrói o mundo, esconde os valores, faz do excesso a pequenez do animismo recente.